Esta não é uma história sobre obras e reformas!

27 outubro, 2025


Vocês já tiveram a experiência única de passar por uma reforma? Aquela mudança necessária que promete mais conforto, praticidade e funcionalidade para um cômodo ou até para a casa inteira. Quando decidi iniciar uma reforma, tinha como expectativa desfrutar de uma área de lazer na minha casa. Queria uma churrasqueira integrada ao quintal, para reunir amigos e familiares em um ambiente tranquilo, conectado com a natureza e ao ar livre. Tudo que eu desejava era essa paz e esse desfrute. Um desejo tão grande e imediato que seria até melhor poder comprá-lo pronto numa loja. Bem que podia, né? Vejo tantas ofertas de coisas prontas por aí... É "só" comprar, é "só" instalar, é "só" fazer. Ledo engano.

Quando começou o quebra-quebra, me deparei com a temida fama das reformas: "tem dia para começar, mas não para terminar". A realidade é que eu não contava com tantas limitações que me distanciavam do meu objetivo e desejo: infiltrações, fragilidades, o pedreiro que some e me deixa na mão, falta de materiais, preços altos, novos profissionais necessários. Não importava o planejamento, nem o quanto eu desejava aquilo pronto, tampouco o meu esforço em fazer acontecer. A verdade era clara: aquela estrutura precisava de cuidados e reparos. Ela não estava pronta para sustentar o que eu queria construir ali.

Como eu disse, esta não é uma história sobre obras e reformas. Hoje, somos inundados por propagandas de produtos e serviços "milagrosos" que prometem entregar nossa "área de lazer" — ou qualquer outro sonho — prontinha e sem esforço.

"Faça isso por 5 minutos todos os dias e sua vida será transformada." "Coma isso e resolva todas as suas questões de emagrecimento." "Use este planejamento e será produtivo como nunca antes."

Essa experiência com a reforma me fez refletir: de que adiantariam tantas fórmulas prontas se a minha estrutura não está preparada, ou madura, para recebê-las? Além disso, é preciso questionar as intenções por trás dessas ofertas: uma estratégia barata de "arremessar" ideias, produtos e métodos esperando que algum acerte em alguém. E quando não funciona? Bem, você que lide com a angústia de não ter uma vida melhor, seja por não ter adquirido essas soluções mágicas, seja por ter adquirido e não saber como, ou se está pronta para, aplicá-las.

Pensando agora, depois dessa vivência com a reforma, será que a minha estrutura está pronta para entender e aplicar tantas dicas e fórmulas? Será que realmente quero ou preciso de todas elas? Afinal, o que eu quero mesmo, e preciso, é de uma área de lazer. Metáforas à parte, um exemplo do que eu quero, é ter um corpo saudável, em pleno funcionamento. Desejo minimizar os riscos à minha saúde, melhorando meu estilo de vida. As tentações de ornamentos extras e fúteis à esses desejos são muitas. Mas, agora, sabendo o que quero e preciso, me sinto mais capaz de manter o foco e, mais do que isso, de preparar melhor essa "casa" para aplicar as dicas e sugestões que fazem sentido para mim neste momento, respeitando meu tempo, minha maturidade e a minha estrutura.

Respeitando meu tempo. E posso? Sim, posso! Cuidar da minha estrutura é trabalhoso, "tem dia para começar, mas não tem dia para terminar". É um processo constante, que exige manutenção de tempos em tempos. Nunca será finalizado. Na medida em que vivemos e usamos essa "casa", a manutenção vai se fazendo necessária.

Por isso, deixo para mim e para nós, esta nota mental:


"Deixe o desejo por prontidão e finalização imediata de lado. A vida é contínua, a reforma é constante, e o preparo da estrutura acontece junto com os novos sonhos e necessidades que surgem no caminho."

Com cuidado,

Psi Tamiris

 

Viver São Paulo

27 outubro, 2025

Morar em São Paulo nos desperta tantos sentimentos ambíguos: a cidade vem sendo cada vez mais marcada por invasões de prédios e comércios, perdas de espaços comuns (gratuitos e bem cuidados), ativações intermináveis e nichadas que mais excluem do que agregam — fora outros aspectos inerentes à cidade grande, como violência e falta de mobilidade.

Para gostar da cidade é preciso querer e, ao querer, muita coisa boa também se revela. Eu, particularmente, busco transitar por aqui fora dos grandes fluxos, filas e ativações. Busco os espaços onde ainda cabe tranquilidade, respiro, segurança, natureza e vagareza.

Aqui vale dizer do bônus de ter escolhido uma atuação profissional que me permite viver outro ritmo. Sei que poder optar por esse ritmo é raro — privilégio de poucos — já que a cidade transborda concorrência e exige estar sempre em movimento, além de ter um alto custo de vida, outro elemento que não nos permite parar e apreciar as nuances das várias cidades contidas em uma só.

Ainda assim, tenho me esforçado para manter as pazes com São Paulo — por preservação da minha sanidade e também por justiça à fama de que aqui tem tudo. Tenho buscado degustar desse “tudo” começando por aceitar a cidade em toda a sua complexidade.

O movimento de me integrar mais à cidade começa pela minha transformação profissional: sair do contrato estável e seguro que o CLT me oferecia e mudar, aos poucos e com dificuldade, minha mentalidade de dedicação profissional de 40 horas semanais. Não “produzir” ou pensar trabalho a todo momento gera uma culpa e um peso enormes. Meu movimento recente vai na direção de aceitar e me apropriar dessa nova realidade profissional e dar a ela a cor e a forma que quero e posso.

Isso ficou ainda mais presente após uma saída bastante desconfortável de um contrato de trabalho que, apesar de PJ, me trazia conforto e me despertou essa necessidade por produtividade desenfreada. Apesar do desconforto, foi bom avaliar mais uma vez como quero estruturar minha rotina profissional: quais acordos serão importantes firmar, onde estarão meus limites rígidos quanto a respeito e entregas, qual fluxo posso construir nas minhas produções e de que forma será possível entregar tudo isso para crescer sempre mais.

Há alguns meses, passar pelo centro de São Paulo tem sido minha rota principal. Foi mergulhada no trânsito da região central que aprofundei tais reflexões e fui me percebendo curiosa por essa cidade e pelas pessoas que aqui habitam. Essa curiosidade me despertou a vontade de estar mais perto — e estar mais perto ampliou meu olhar para a complexidade cotidiana que cada um vive por aqui. Compreender essa complexidade, sem dúvidas, me amplia profissionalmente, já que meu trabalho tange a saúde emocional e profissional dos meus clientes.

E já que estamos falando de curiosidade, complexidade e ampliação, me comprometi a viver o centro de São Paulo mais de perto. A experiência foi tão positiva que foi a partir dela que todo esse texto me veio em mente.

Ouvindo um episódio do podcast Mano a Mano, com a convidada Djamila Ribeiro, desci a pé da Avenida Paulista em direção ao Copan, aprendendo com essa filósofa e professora ainda mais sobre cultura negra, racismo, relações inter-raciais e filosofia brasileira. A trilha sonora me acompanhou pelas ruas Nestor Pestana e Av. Ipiranga até chegar à sorveteria Tem Umami. Já havia sido impactada pelos posts dos sorvetes artísticos deles e fiquei surpreendentemente feliz ao descobrir que era ali.

Aqui, vale um “review” dessa obra-prima: a Tem Umami trabalha com alimentos predominantemente orgânicos e de pequenos produtores, produzindo alimentos frescos e sem uso de conservantes. É por essa razão que o sorvete deles é leve e muito saboroso. Pedi a famosa casquinha de quindim — muito bem servida, facilmente para duas pessoas. O quindim é a estrela: macio, docinho e delicioso. E a massa da casquinha, minha nossa — crocante, saborosa, numa espessura justa, não quebradiça e recheada com o que me pareceu coco ralado açucarado, um contraste perfeito com o sorvete. Apesar do valor ser um pouco alto para um sorvete, achei justo, pois nota-se a qualidade e a preocupação com um produto que, apesar de doce, é natural e até saudável, já que se preocupa com ingredientes orgânicos e sem conservantes.

Feliz com essa experiência, já estava satisfeita em conhecer esse pedacinho do centro. Mas queria estacionar numa livraria para respirar tranquila, acompanhada de muitos livros que ainda terei e lerei. Ali mesmo, no Copan, encontrei a Megafauna, uma livraria pequena, mas muito completa, com títulos que ressaltam diversidade e estimulam o pensamento crítico — adoro.

E ali, mergulhada em muitos títulos que já namoro há alguns anos, fui impactada pelo lançamento de um livro. Uma autora “desconhecida” se apresentava e, para mediar a conversa, Semayat Oliveira, jornalista que apresenta o Mano a Mano junto ao Mano Brown. Pois é, eu entrei nessa sinergia! Minutos antes, ouvia Semayat conversar com Djamila, e agora ela apresentava para mim Eliana Alves Cruz.

Na conversa, falavam do enredo de seu livro Meridiana e das histórias que combinam escolhas profissionais, ascensão social e relacionamentos inter-raciais. Sim, essa sinergia aí! Claro que comprei o livro — e me dei conta de quem era essa autora: há alguns meses, havia comprado Solitária, recomendado por colegas em um grupo de leitura e muito comentado pela intensidade e sensibilidade da autora. Dá pra acreditar nessa coincidência? Estar pertinho de pessoas que eu já admirava e agora ganham forma, voz e calor.

Saí emocionada desse encontro — pela sinergia, pelas minhas escolhas coerentes com o que quero para mim, pela minha disponibilidade e abertura ao que pode vir com os movimentos intencionais. Pelas revelações que São Paulo ainda me faz.

Deixo esse texto em forma de relato como registro para mim mesma. Como lembrete dos lindos acontecimentos que podem ocorrer quando há autocuidado e intencionalidade nas ações. Como convite a sair do automático e me permitir surpreender até mesmo com o conhecido.

Compartilhar ele aqui é desejar que esse relato te inspire também. Ficarei feliz em saber dos seus caminhos.

Com intencionalidade,
Psi Tamiris